domingo, 19 de julho de 2009

Poetas

A alma da gente flutua,
Nas ondas do dia a dia,
Com cada lágrima escondida,
Um pouco ela se esvazia!

Quem só canta as belezas da vida,
Não viveu, ou, teve a sorte,
De viver, da vida à morte,
Escondendo o que sofria!

Cantar o por do sol,
Apreciar as flores abertas,
É a sina destinada,
Aos condenados, poetas!

Edelweiss Marx e Silva

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Civilização

O SOCIÓLOGO sorveu com vigor, duas, três vezes, o fumo do cigarro e, enquanto, durante meio minuto, o soprava de volta, foi dizendo:
- Há quem sustente, ainda hoje, que o homem provém do macaco. É possível. Porque estamos vendo agora o contrário, isto é, o homem regredindo ao macaco. A civilização progride sempre, mas não se confunda civilização com cultura, e esta tenho a impressão que vai para trás com o rádio, a televisão e a bomba atômica.
E como eu o olhasse incrédulo:
- Olhe, eu sou de uma cidadezinha do interior de Minas, onde vivi até os dezessete anos. No meu tempo, existiam lá duas bandas de amadores. Cada uma com vinte e cinco músicos. A rivalidade entre as duas era grande. Por isso, havia que ensaiar muito para não ficar atrás no favor do público, que estimulava uma e outra. Ensaiava-se todos os dias. Mal acabava o jantar, a rapaziada corria para a sede da charanga, e com ela ia muita gente, que, assim, passava as noites inocentemente, ouvindo dobrados sadios ou valsinhas do tipo dessas que Mignone, Camargo, Gaurnieri e Gnatalli têm estilizado. Havia também, teatro, igualmente de amadores. Ensaiavam, ensaiavam, e de vez em quando davam o seu espetáculo, a que concorria toda a gente do lugar. Havia dois clubes de futebol, que, à semelhança das charangas, dividiam as preferências do povo.
Passei trinta anos sem rever a minha cidadezinha. A semana trasada, tendo que ir a Diamantina, aproveitei a ocasião e fui rever os meus pagos... Que decepção! Ainda não há lá arranha-céus, mas há uns prédios de dois ou três andares imitando os arranha-céus de mau estilo do Rio e de São Paulo. Soube que as duas bandas de música tinham desaparecido. Não se fazia mais teatro. O futebol decaíra. O culpado de tudo isso, explicou-me o vigário, foi a civilização: foi o rádio, produto e instrumento dela. Em cada casa da minha cidadezinha natal, mesmo a mais pobre, há um rádio. As moças do lugar deixaram de se interessar pelas charangas de antigamente: só querem saber dos cantores e cantoras da bossa nova das rádios comerciais; os velhos e velhas acompanham com paixão as novelas radiofônicas ou televisionadas.
- E a rapaziada? - perguntei.
- A rapaziada vai para o bar e fica torcendo... pelo Vasco ou pelo Flamengo!

Manuel Bandeira

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Lógica Canção

Eu amo... Tu amas... Ele ama...

Teus olhos são duas sílabas
que me custam soletrar
teus lábios são dois vocábulos
que não posso interpretar.

Teus cabelos são gramáticas
das línguas todas do amor
teu coração tabernáculo
que pode me confundir.

Teu caprichoso espírito
inimigo do dever.
É um terrível enigma
ai! Que nunca posso entender!

Vera Lúcia Santana Rosa

quinta-feira, 2 de julho de 2009

BORDERLINE


meus olhos nos seus
equilibrisas espreitam o espírito do mundo
rosto sereno, quarto de desordens
o terraço aéreo, pontes e portas
eu pensamento em você
espreitando dublês-de-corpo
você desprezando seus pares
excessivamente ímpar
cheia de demônios familiares
e overdoses de histórias
eu junto a você, ouvindo sons circularem
por nossos mais íntimos circuitos
pudesse tocar delicado seu ombro sombrio
e segredar nonsenses
talvez escrevivesse rumores na pele
mais perto da febre de zarpar
que do prazer retorno


Sandro Ornellas

SOU OU NÃO SOU

Sou um vulcão de ideias
prensadas,
abafadas,
como lavas
prestes a entrar em erupção.

Sou uma camaleoa
camuflando,
sobrevivendo
a todo tipo de pressão.

Sou um palhaço
no picadeiro da vida.
Sou o choro abafado,
o riso debochado...

Sou ou não sou?
Eis a questão.


Maria Auxiliadora Silva de Araújo

Faça o teste, ouça e veja se você é bobo ou não.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Paranóia

Eu me cansei de ouvir e falar,basta!
Eu quero quebrar o meu silêncio e gritar.
Eu quero subir, além dos montes
Quero que o meu eco se estenda, além das montanhas e dos horizontes.
Além da atmosfera, além da vida.
Não sou louco!
Existo e insisto que alguém me ouça um pouco.
Eu sou humano, normal!
Eu sou rei.Rei do planeta do reino animal.
Eu vivo, eu penso,sou racional.
Eu quero que em todos os continentes ouçam o meu clamor...
Sou carne e osso, coração e vida
Eu preciso de um afeto, eu preciso de um amor
Não sou fraco, ninguém é forte.
Ninguém.
Ninguém sabe se o fim da vida é realmente a morte.
Ninguém.

Flávio Martins

Quem me dera

Quem me dera ter palavras pra dizer
O quanto é imenso o meu amor por você.
Quem me dera ter forças para lutar e fazer-te retornar.
Tudo voltaria a ser como antes, seríamos amigos, mas também amantes.
Causaríamos inveja ao mundo inteiro, pois seria um amor verdadeiro.
E tudo pararia, e se calaria, para ouvir a nossa melodia.
O nosso canto seria o mais lindo... E todos nos aplaudiriam sorrindo.
Tenho apenas uma coisa a me consolar,
É saber que nesse mundo, de ilusionismo profundo, não é proibido sonhar!
Porque sonhar é viver... O que me revolta é não ter palavras para expressar
O quanto é imenso o meu amor por você.

Flávio Martins